venerdì

:: Sonho colorido...














A fotografia de Olaf Martens
Vem de mansinho…
Deixa-me ficar
nesta penumbra, nesta meia luz.
Senta-te amor, devagarinho…
Assim…
Eu quero escutar
essa música dolente,que a tua luz traduz!
Vem contar-me contos…
Conta-me a vida dos ciganos
nómadas, errantes.
Dize-me dos orientais
que têm paixões brutais
e dos seus haréns,as cenas sensuais…
Dá, meu amor,dá alegria,
põe muita cor
nessas novelas…
Vem contar-me coisas belas!
Veste as ciganas bronzeadas
de lenços de ramagens!
Dá tons vivos às imagens…
Veste-as de cores encarnadas!
Fala-me dessas tribos selvagens
enfeitadas com penas multicores
e coisas esquisitas,desenhando tatuagens
no peito das favoritas!
- Dize-me dos teus amores…
Enche de luz e de estridor
a minha alcova sombria!
Dá-me alegria…
Incendeia meu sangue arrefecido!
E depois meu amor…
Depois…
deixa-me sonhar…
Delirar,
num sonho belo,
rubro, colorido!
Judith Teixeira

:: Tu...


Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,meus dentes
beijam,minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.
Pudesse eu ser tu
e em tua saudade ser a minha própria espera
Mas eu deito-me no teu leito
quando apenas queria dormir em ti,
E sonho-te
quando ansiava ser um sonho teu.
E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor:
simples perfume,lembrança
de pétala sem chão onde tombar.
Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.
Mia Couto